terça-feira, 6 de abril de 2010

Ops.

Acordei em um susto tamanho, tal como quem é pego em flagrante por crime inafiançável, e expliquei-me demoradamente como um filho explica à mãe sua história mentirosa, que se entrega ingênua nas próprias inverdades, tamanha é sua prolixa necessidade de existir.
Envergonhei-me por cometer o pecado sagrado do sono repousante e me desdobrei em argumentos que sustentassem meu direito provisório de largar as pálpebras à gravidade e deixar fluir o agente inconsciente que se pronuncia em situações diversas no universo paralelo do sonho.
Submeti-me a seu crivo impiedoso, curvei-me ao seu implacável julgamento e me recolhi à minha pequenez de ser errante diante da presença suprema de sua superioridade personificada.
Estremeci ao imaginar seu conceito sobre mim, reduzi-me a inimaginável insignificância e arrependi-me sincera e longamente pelo erro mortal e inconfessável de ser mais um. De ser normal.

2 pitacos:

O Verme Verde disse...

Esse texto bem é uma coisa de gente normal. Vai de lá que eu concorde com isso, vai daqui que eu nego qualquer observância qualquer. Só sei que cê é linda nos escreveres. E nos seres. E nos poderes, dizeres, andares, viveres.

Cyntia Pinheiro disse...

Uau! Muito bom!
Amei "largar as pálpebras à gravidade" ... e tudo o mais...
Beijos.